terça-feira, 11 de novembro de 2008

Último de Literatura

Pois é, povo, segundo ano terminando e minha aposentadoria chegando...
último resumo de literatura, falando sinteticamente das características do período realista/naturalista, de algumas obras de Machado de Assis e do Parnasianismo. As questões de prova serão, mais especificamente, 7: sobre O Ateneu(2), O Cortiço(2), Parnasianismo(2) e Realismo/Naturalismo(1)... os números em parênteses são as quantidades de questões de cada assunto, se não estiver enganado.



Período do Realismo e do Naturalismo
Semelhanças: iniciaram-se simultaneamente, no Brasil em 1881, com as obras Memórias Póstumas de Brás Cubas (realista, Machado de Assis) e O Mulato (naturalista); quebram com a idealização romântica da realidade, mostrando as mazelas sociais como realmente eram; seguiam as mesmas correntes filosóficas (materialismo, cientificismo, determinismo, positivismo, evolucionismo, etc); ambas denunciavam a sociedade, que passava por processos bruscos de mudança com as revoluções sociais e industriais que ocorriam na Europa. Os temas envolvem adultérios, homicídios e suicídios, prostituição e demais mazelas.
Diferenças principais: enquanto os realistas faziam a denúncia das mazelas sociais e de forma sutil, sugerindo, os naturalistas mostravam as mazelas especialmente sexuais (prostituição, homossexualismo, banalização do sexo) e de forma grotesca e direta (não só sugeriam como mostravam e detalhavam); os realistas só mostravam as mazelas e não se posicionavam, os naturalistas tinham engajamento social (se importavam com a "moral" da história, por assim dizer); realismo era a arte do cientificismo psicológico (análise psicológica das personagens e situações), enquanto o naturalismo era baseado no cientificismo concreto (mostrava as ações e instintos das personagens, comparando-as a animais- a essa animalização se dá o nome de zoomorfismo).

Machado de Assis 
Primeiramente, colocarei aqui algumas das características marcantes de Machado, que podem ser analisados em
Memórias Póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba:
  • Análise psicológica dos personagens
  • Pessimismo (ao extremo)
  • Construção metalinguística do discurso narrativo 
  • Estilo anti-narrativo.

(Essas duas, obras analisadas pela Andréa, estão na parte de arquivos do galois.kit.net. O Cortiço, obra de Aluísio de Azevedo, também está na folha da Andréa que resume as obras.)

O Ateneu.
Obra de Raul Pompéia, "O Ateneu" conta histórias do velho Sérgio na época em que ele era jovem, no colégio Ateneu, colégio de internato de rapazes no século XX. Ou melhor, corrigindo: o livro não conta histórias do velho Sérgio, é o próprio Sérgio que, já velho, conta suas experiências na época do colégio. A obra apresenta traços de 5 escolas literárias diferentes e consecutivas:
  • Romantismo: o colégio, como centro de formação de caráter e de cidadania, é idealizado.
  • Realismo: há um desnudamento (oposto de idealização) das relações humanas (denúncia moral); há, também, distinção entre o tempo da narrativa (quando é contada a história) e o tempo narrado (o tempo da história propriamente dita).
  • Naturalismo: conta as patologias sexuais dentro do colégio, aonde só tinham meninos (não, na época eles não usavam maiô de remo, Thi, isso foi só depois) e aonde existia o homossexualismo. Aliado ao homossexualismo, vemos a corrente filosófica do Evolucionismo numa cena em que Sérgio é novato na escola e um outro aluno antigo lhe fala: "Faça-se forte" (Lei do mais forte, tanto moralmente quanto sexualmente, no caso).
  • Expressionismo: deformação grotesca da realidade (como na pintura expressionista "O grito").
  • Impressionismo: valorização das impressões sensoriais (dos sentidos, das sensações), que dá um tom memorialista à obra. (ECA, Félix, tom o quê?) O tom memorialista na obra é o fato de Sérgio, já velho, ficar lembrando-se, nostalgicamente, das sensações e impressões que teve no colégio. Tá, é meio viagem, mas é isso aí.
Além dessas características, a obra tem o narrador, Sérgio, que conta a história em primeira pessoa (narrador-personagem), de forma auto-biográfica. E, assim como qualquer autobiografia, existe parcialidade na narração dos fatos e Sérgio, como qualquer homem nas obras realistas, é um fracassado na vida e inclui o pessimismo ao contar-nos sua história. O enredo apresenta personagens-tipos (são encontrados, nos personagens, características de certos grupos sociais, de forma caricaturada) e o maior exemplo disso é o do diretor da escola, o Aristarco, que é movido por dinheiro, representando a burguesia da época. Dessa caricatura, podemos ver a crítica à sociedade a partir da crítica ao colégio ("o macro no micro" = o colégio representa a sociedade e o que se aplica a um se aplica, de modo geral, no outro).
A narrativa da obra é lenta, cheia de detalhes (detalhamento psicológico das personagens; digressões - paradas no meio da narrativa para se contar algo à margem da linha geral do enredo).
Como faz parte daquelas 5 escolas mencionadas, é difícil escolher um para caracterizar O Ateneu. Por convenção e pela data, foi colocado no Realismo/Naturalismo.

O Parnasianismo
Movimento contemporâneo ao Realismo. e ao Naturalismo e, como os dois, negava o subjetivismo e a idealização românticas. Mas também não entrou no mérito de mostrar a realidade como ela era, até porque seria uma tremenda falta de originalidade. Não, os parnasianos preocupavam-se em fazer a arte pelo que a própria arte representava: a "arte pela arte", pois a arte, em si, já tem conteúdo suficiente para apreciação do poeta; por isso, por representar a arte com e pela arte, os parnasianos era mestres na metalinguística e no trabalho de formação do verso: assim como um ourives ou um escultor, o poeta deveria trabalhar o poema até a exaustão. Não é necessária a inspiração, mas a boa estrutura do poema: palavras certas para o verso certo, rimas ricas (entre palavras de diferentes classes gramaticais). Por essa busca da perfeição formal, eles eram objetivos e extremamente racionais, sem motivações religiosas, místicas, políticas ou sociais: distanciavam-se do cotidiano em suas "torres de marfim", burilando o poema (trabalhando, escolhendo as palavras certas - "poetas do dicionário").
A forma preferida para os viadinhos (ops, perdão), para os parnasianos era a forma fixa do soneto (10 ou 12 versos; os de 12 são chamados alexandrinos) e, muitas vezes, se utilizavam do efeito do enjambement (falar com biquinho, porque é francês, meio gay mesmo), também chamado de cavalgamento, que é a continuação da frase com ruptura de verso (ao ler o verso, a conclusão da frase se encontra fragmentada, dividida entre um verso e outro).
Como muito racionais, os parnasianos não expunham emoções em seus poemas, que geralmente eram descritivos e falavam de objetos de arte, da Antiguidade (mitologia, mas sem engajamento místico), fenômenos da natureza e a própria arte de se poetar (fazer poesias, não pensa besteira). O curioso do Parnasianismo é como ele conseguiu fazer tanto sucesso quanto fez, pois seus temas eram muito restritos e foram logo superados, na Europa, pelo onirismo (misticismo, ocultismo, religiosidade) do Simbolismo, que foi precursor da maioria dos movimentos artísticos futuristas e modernistas.

Principais autores do Parnasianismo:
  • Trindade Parnasiana
a) Alberto de Oliveira
- "O Príncipe dos Poetas" (recebeu de Bilac)
- o mais ortodoxo dos parnasianos (mais radical)
- poesia descritiva (objetos de arte, natureza, fatos históricos)
- preocupação formal (preferência por sonetos)
- um dos maiores sonetistas da nossa literatura

b) Olavo Bilac
- primeiro "Príncipe dos Poetas"
- o mais famoso dos parnasianos
- autor do manifesto do Parnasianismo, "Profissão de Fé" (regras e normas para a construção do poema - metapoema)
- também produziu poemas lírico-amorosos com apelos de erotismo (resíduos do Romantismo)
Ex: 
"Quero um beijo
um beijo sem fim
que dure a vida inteira
e aplaque meu desejo"

- autor do "Hino da Bandeira"
- além da vertente parnasiana e da lírico-amorosa, há também uma poesia marcada por um forte sentimento nacionalista
- "o Poeta das Estrelas"

c) Raimundo Correia
- o mais pessimista dos parnasianos
- preocupação formal (preciosismo)
- tematiza o vazio existencial
- seu poema mais famoso é o soneto "As Pombas"

  • Outros poetas:
- Francisca Júlia (similar ao Alberto de Oliveira, bem ortodoxa - "nerd", "quadrada")
- Vicente de Carvalho (transição do Parnasianismo para o Simbolismo)


Comparação dinâmica dos 3 movimentos literários contemporâneos:
Para ir contra os ideais românticos, valorizando a razão, surgiram 3 movimentos: o Realismo e o Naturalismo, surgidos em 1881, e o Parnasianismo, que veio em 1883. 
  1. Realismo: iniciado com Memórias Póstumas de Brás Cubas, abrange poesia e prosa. Principal escritor: Machado de Assis. Denuncia as mazelas morais da sociedade através da sugestão implícita.
  2. Naturalismo: iniciado com O Mulato; só existente na prosa. Assim como o Realismo, denuncia as mazelas geradas com a II Rev. Industrial. Sua denúncia é explícita e mostra as mazelas de forma crua e grotesca, em especial as mazelas sexuais, de forma patológica.
  3. Parnasianismo: ainda quebra com o ideário romântico, mas não se preocupa em explicar as mazelas ou as aspirações do povo. Só ocorre na poesia. Os poetas eram "alienados", escrevendo sobre a própria arte e não sobre a realidade, gerando uma preocupação exacerbada com a forma em detrimento do conteúdo.


Um comentário:

Anônimo disse...

rimas ricas são entre palavras de mesma classe gramatical,não de diferentes...