quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Locke, Hume e Iluminismo



John Locke (1632-1704)
Teórico inglês que muito influenciou a Revolução Gloriosa (ajudou a constituir, na Inglaterra, uma monarquia parlamentar) e Independência dos EUA (suas idéias são claramente observadas na Declaração de Independência). Suas teses baseiam-se, principalmente, no Liberalismo Político e no Empirismo, criticando, entre outros, o Racionalismo de Descartes. Vejamos algumas de suas idéias:
  • Empirista, Locke acreditava que, só através dos sentidos e da experiência podemos alcançar o conhecimento, baseado em métodos racionais. São apenas os nossos sentidos que nos dão a idéia de real e irreal.
  • Teoria do Conhecimento: seu principal objetivo era investigar os limites do intelecto humano, através dos sentidos e da experiência, baseada em critérios científicos. A principal obra sua sobre a Teoria do Conhecimento é "Ensaio sobre o Entendimento Humano".
  • Locke pensa que todos nós nascemos na estaca zero de conhecimento. Com essa tese, ele nega Descartes (que acreditava que o homem nasce com idéias inatas- que já vêm implantadas em nós desde nossa origem por vontade de Deus) e vai, também, contra Platão (que dizia que cada um de nós nasce com uma certa quantia de conhecimento diferente dos demais). Locke crê que ninguém é superior a ninguém quando nasce.
  • A "estaca zero", de onde todos começamos ao nascer, é também comparada, por Locke, com uma tela em branco, que vai sendo rabiscada e desenhada à medida que experimentamos novas coisas, através de nossos sentidos.
  • O empirismo de Locke foi de muito proveito para as ciências que estavam em desenvolvimento. Para ele, haviam duas possíveis fontes para se chegar a uma idéia: a sensação (sentidos) e a reflexão (conclusão/observação racional a partir da sensação).
  • Dividiu os aspectos dos objetos em primários e secundários. Os primários são aqueles invariáveis, que não se alteram de acordo com o observador: comprimento, altura, largura, peso. Os secundários podem variar de acordo com o observador, sendo mais subjetivos: sabor, cheiro, cor, aparência.
  • A generalização, feita na experiência, pode ser errônea, diferente do que acontece na matemática. E, também diferentemente da matemática, o conhecimento é apenas provável (não se pode se estabelecer como uma verdade: só pode ser demonstrado de acordo com as circunstâncias nas quais foi instituído).
  • Como as religiões não tem base empírica, não se pode saber se há uma religião certa ou errada; Locke, assim, defendia a tolerância religiosa.
  • Ponto conclusivo de Locke: a educação é fundamental para a formação do intelecto do indivíduo, criando para ele as oportunidades de se experimentar e questionar as verdades instituídas e assim por diante, chegando à um maior questionamento do sociedade do que é tido como verdade por ela. Esse conhecimento leva, de certa forma, à participação política, e é isso que Locke pretende ao valorizar a educação.

David Hume (1771-1776)
Filósofo escocês exemplo do empirismo e do ceticismo moderado. Principais características de seu pensamento:
  • Assim como Locke, Hume era empirista, acreditando que a noção das coisas reais vem com a nossa capacidade sensorial (sentidos).
  • Ele acredita que não existe pensamento, por mais complexo que seja, que não derive de idéias simples, cópias de alguma sensação anterior. Nada é original nesse sentido.
  • Criticou a noção comum de causa-efeito (causalidade). Não existe necessariamente, para Hume, uma relação entre acontecimentos seguidos e repetidos diversas vezes: são apenas fatos isolados que devem ser analisados individualmente, sem atribuir ao anterior o rótulo de causa e ao último o de conseqüência. (EX: num jogo de sinuca, quando se dá uma tacada numa bola e esta acerta outra, que se movimenta. No pensamento de causalidade, o movimento da segunda bola seria conseqüência da tacada. Para Hume, é diferente: cada movimento deve ser analisado individualmente, ou seja, não existe uma causa anterior para que a segunda bolinha se mova, apenas o fato de uma força instantânea ter sido aplicada nela por outra bolinha.)
  • Questionou, também, a idéia de Identidade pessoal que todos temos: se todos nós mudamos de acordo com nossas experiências e idéias, como definir-nos de acordo com nossa mentalidade? Para Hume, a mente não pode ser postulada como substância pensante. (Difícil de entender? Talvez, mas é só pensar que você não é o mesmo que era há dois anos. Que o seu "eu", é resultado da sua situação (externa e internamente) num determinado momento de sua vida.)
  • Ceticismo moderado: ele questiona todo o conhecimento tido como tal, dizendo que esse conhecimento também muda de acordo com fatores circunstanciais e não deve ter tido como absoluto (é apenas provável nas circunstâncias em que foi instituído). O que temos, realmente, como verdade, são apenas expectativas. OBS: nessa tese, a matemática fica de fora, sendo ela A ciência exata.
  • "A Razão é escrava das paixões": como todos somos influenciados por nossas emoções/paixões (não se pode ser completamente intelectual, embora dê pra desconfiar de algumas pessoas, né Huff? - Aliás, parabéns pelo aniversário, cara!) Voltando: somos influenciados por nossas emoções e, assim, nossas idéias também o são.


Iluminismo Filosofia das Luzes, Ilustração (ou Ilustracionismo) ou Iluminismo foi um movimento filosófico do século XVII que influenciou muito a Revolução Francesa e os processos de Independência das colônias européias na América e tinha, como principas idéias:
  • o domínio da razão sobre a emoção/fé (razão = luz - Iluminismo);
  • questionamento das verdades instituídas, através do uso da razão;
  • desenvolvimento das ciências (explicação racional das coisas; Enciclopédia);
  • a liberdade de produção e comércio (liberalismo econômico);
  • o fim do Absolutismo, do Mercantilismo e do Colonialismo;
  • o fim da sociedade estamental (dividida em castas; em especial a sociedade francesa pré-Revolução Francesa);
  • Secularização do Estado (distinção entre moral religiosa e moral política);
  • uma sociedade laica (Estado separado da Igreja-principalmente a Católica, na época; sem religião oficial);
  • igualdade jurídica (todos os homens são iguais perante a Lei);
  • divisão do poder estatal e possibilidade de ascensão política/social.
  • outras besteirinhas que a Paula falou na sala mas eu devia estar dormindo.

Dentre os Iluministas, podemos citar: Voltaire (deísta: acrerditava na existência de um Deus racional que dotou o homem de razão, que o capacita para se auto-governar, sem necessidade de intervenção divina na criação), Diderot e D'Alambert (enciclopedistas: colocaram o conhecimento no papel, desde os tipos de peruca para se usar na praia até a construção de projetos arquitetônicos - tipo uma Barsa da época), Montesquieu (elaborou a teoria do Estado Tripartite: divisão entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, com objetivo de desconcentrar o poder) e Rousseau (iluminista mais questionador e com idéias mais revolucionárias ,que instigaram o povo francês na Revolução Francesa; defendia a República, o sufrágio (voto) universal, a fraternidade, a abolição da escravidão e o fim das diferenças sociais -lema: liberdade, igualdade e fraternidade).

Antecedentes históricos e teóricos do Iluminismo: Racionalismo (razão acima da emoção/fé), Revolução Científica (com Newton, Kepler, Copérnico, Galileu e outros, estabeleceram-se leis gerais sobre o funcionamento do universo, trazendo o conhecimento para a área científica), as idéias políticas de Secularização do Estado, de Maquiavel; as contestações à soberania da Igreja Católica e do poder da fé na vida das pessoas (essas contestações aparecem desde a Reforma Protestante até o racionalismo e empirismo, com John Locke) e a Revolução Gloriosa que inspirou politicamente os iluministas (divisão do poder, fim do Absolutismo). Todo e qualquer movimento que fale sobre o fim do absolutismo e sobre a importância da razão antes do Iluminismo pode ser considerado um precursor deste.

Contra capa da Encyclopedie, enciclopédia de Diderot, mostrando a Verdade sendo descoberta (no sentido literal mesmo) pela Ciência e pela Razão.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Prosa Romântica

A Prosa Romântica surgiu na Alemanha no século XIX, com "Os sofrimentos do jovem Werther", de Goethe. Apesar de iniciada na Alemanha, a maior divulgação da prosa romântica partiu da França (detalhe: a França era o país na Europa que tinha se livrado do Absolutismo, colocando a burguesia no poder político e econômico. Sendo o Romantismo uma arte DA burguesia, feita PELA burguesia e feita PARA a burguesia, a França foi onde mais obteve sucesso a linguagem romântica).
A divulgação das prosas românticas se dava periodicamente, juntamente com os jornais, nos chamados folhetins. Tais folhetins podem ser comparados, hoje, às novelas televisivas, por atrair a atenção e a expectativa do público para a continuação da trama, que era pouco complexa, satisfazendo a vontade do pouco exigente público leitor.
Romance, apesar do nome, não é uma história de amor (pode ser em torno de uma história de amor, mas nem sempre): romance é uma narrativa (o romance consolidou o gênero narrativo) longa que apresenta vários personagens envolvidos entre si por uma trama, composta de conflitos. Nos romances românticos, certas características estão sempre presentes:
  • complicação sentimental ou conflito amoroso envolvendo uma ou várias personagens;
  • tensão bem versus mal, numa forma bem maniqueísta de se ver a vida (o maniqueísmo diz que o mundo é composto de coisas boas e coisas más, sem meio-termo). O mal pode ser representado em pessoas ou em situações que criem um impedimento ao herói da narrativa;
  • personagens lineares (planas) ou idealizadas, que não entram em conflito interno, não apresentam profundidade psicológica, sendo previsíveis e não alterando seu comportamento ao longo da trama. (O oposto de personagem linear é personagem esférica - não tem nada a ver com seu peso, que é a personagem que muda seu comportamento durante a trama. Poucos romances românticos apresentam personagens esféricas).
  • triunfo do bem sobre o mal (geralmente um final feliz, podendo ser um final trágico - poucas ocorrências).
Primeiro romance romântico: "A Moreninha", de Joaquim Manoel de Macedo.

Divisão dos romances românticos quanto seus temas:
  • urbano: se passa na cidade do Rio de Janeiro, mostrando a pura realidade da sociedade burguesa do Rio;
  • indianista: passado nas selvas brasileiras, põe a figura do índio como herói idealizado;
  • regionalista: passado no interior do país, conta os aspectos dos ambientes rurais do interior do Brasil;
  • histórico: retrata o país desde os tempos da colonização.

Principais autores de romances românticos urbanos:
  1. Joaquim Manoel de Macedo: introduziu a prosa romântica com "A Moreninha", em 1844. O livro conta a história de Carolina e Augusto, que fizeram, quando crianças, a promessa de que se casariam quando crescessem, trocando breves (pequeno "pacotinho" costurado com um pertence pessoal da pessoa amada, que indicava comprometimento amoroso) já nessa época. Eles crescem sem se ver, mantendo a promessa, cada um à sua maneira: Carolina torna-se arrogante e difícil, não permitindo que seus pretendentes se aproximem dela; Augusto se torna um verdadeiro galinha: para não amar nenhuma exclusivamente, ele fica com todas. Augusto e seus primos estavam no Rio, onde fizeram uma aposta: se Augusto se casasse com alguma donzela no período de um mês, ele teria de escrever um livro; se não, os primos escreveriam. Aposta feita. Houve, na cidade, um super sarau (festa de boate da época, para burgueses), aonde os primos iam tentar fazer com que Augusto conhecesse alguma donzela de quem gostasse mais. E aconteceu que, nesse sarau, estava Carolina, conhecida na cidade por sua beleza, sendo chamada de Moreninha. Não reconhecendo Augusto, Carolina se faz de arrogante quando ele tenta se aproximar. Mas Augusto se apaixona, e não desiste: se inscreve na aula de bordado que Carolina cursa em sua casa. Conversa vai, conversa vem, ela também se apaixona... Mas um conta ao outro que eles estão prometidos. Depois de muita conversa furada de que ele não poderia mais ficar ali e tal e coisa, eles acabam mostrando os breves um ao outro, recordando a promessa. Se casam exatamente um mês depois da aposta de Augusto, que escreve o livro "A moreninha". Carolina e Augusta representam os típicos heróis românticos: burgueses, lineares, sem nenhuma profundidade psicológica. Ocorre a tensão bem versus mal, na qual o mal é a promessa e a troca de breves, que os impedem de ficar juntos antes. Além de "A moreninha", Joaquim M. Macedo também escreveu "O Moço Loiro" e "A Luneta Mágica".
  2. José de Alencar: considerado o melhor poeta romântico por ter escrito todos os tipos de romances (que ele mesmo criou a divisão) e ter criado um quadro completo do Brasil no tempo e no espaço com história desde a época da colonização, passadas no interior e na capital do país. Seus romances urbanos retratam o Rio no século XIX; os indianistas retratam as selvas brasileiras desde os tempos coloniais até o século XVII; os históricos falam do ciclo da mineração do século XVIII e os regionalistas falam do interior do país no século XIX. Seus romances urbanos são, em ordem de publicação e complexidade:
  • A Viuvinha: conta a história de Jorge da Silva, típico herói burguês, riquíssimo (herança), esbanjador e metido a besta. Até conhecer Carolina, que o faz mudar de vida, com quem noiva e marca o casamento. Às vésperas do casamento do filho, o pai de Jorge investe toda a sua fortuna em negócios suspeitos e perde tudo. O tutor de Jorge, Sr. Almeida, conta para seu pupilo, Jorge, que não lhe restava nada da herança. Com o nome sujo, Jorge forja seu suicídio na noite de núpcias, antes de consumar o casamento com Carolina, e vai para os EUA, mudando de nome para Carlos, pretendendo voltar com o nome limpo (rico) e voltar para Carolina. Dito e feito. 5 anos e ele volta para o Brasil, rico. Ele observa Carolina, a viuvinha, na varanda de seu quarto todas as noites e revela-se como Carlos. Ficam "íntimos" e ele pede um encontro. Ela nega-se, dizendo que ainda é fiel ao marido. Carlos então conta a verdade, revelando ser Jorge, e eles consumam o casamento. Obs: o narrador é narrador-personagem (Jorge) e conta tudo em 1ª pessoa.
  • Cinco Minutos: contado através de cartas dissertativas, escritas pela protagonista (Carlota) à sua vizinha e amiga (Carolina), esposa do narrador que é o mesmo narrador da história da viuvinha (Jorge); o narrador é onisciente, contando tudo em 3ª pessoa. Um rapaz, o herói da história, perde seu bonde por ter atrasado cinco minutos, e pega o próximo trem. Senta-se ao lado de uma dama de preto (toda coberta por panos pretos, apenas a mão fica descoberta). Ele apenas vê suas mãozinhas delicadas e começa a imaginar como seria seu rosto; ele a corteja. Ela agradece e desde do bonde no comércio do centro da cidade, dizendo a ele que não a esquecesse. Ele, obcecado, pega todos os dias o bonde cinco minutos atrasado e desce no comércio, tentando encontrá-la (fica assim durante um mês). Acontece que ele a encontra num teatro, sentando ao seu lado. Descobre seu nome, Carlota. Nas semanas seguintes, ele descobre o enderaço dela e a visita sempre. Depois de muitas visitas e de já estarem apaixonados, ela o mostra seu rosto, que ele considera lindo. Ele a pede, mas ela dá um toco nele, dizendo que tem tuberculose e está em fase terminal, definhando. Ela decide, então, ir para a Europa. A mãe dela, vendo que o rapaz era capaz de dar mais forças à filha, o chama para ir à Europa se ele assim quisesse; ele aceita. Atrasado para o embarque, ele chega a tempo de ver o navio zarpando e Carlota chorando: ele grita para que ela a espere, pois ele pega o próximo. A cada porto que ele ancorava, ali encontrava uma carta de Carlota, que o deixa esperançoso. Encontram-se na Europa, ela em estado crítico. No leito de morte, ela pede a ele que a beije uma última vez. No beijo, ela é curada (que coisa estúpida, cá prá nós!). Ela então conta sua história através de cartas, enviadas para sua vizinha Carolina (a viuvinha), esposa do narrador (Jorge).
  • A Pata da Gazela: também chamada de "Cinderela Brasileira". Conta a história de Amélia, Horácio, Leopoldo e Laura (prima de Amélia), todos eles da elite burguesa do Rio. Horácio, conhecido como "Leão da Rua do Ouvidor", encontra um pé dos sapatinhos de Amélia, caídos da carruagem da moça, e a procura. Vão, então, ao teatro, Horácio, Amélia e Laura (juntos) e sentam-se nos camarotes. Leopoldo, um rapaz desleixado ao se vestir e com um "ar blasé" (meio down por causa da morte da irmã), assiste da "geral", de onde vê Amélia nos camarotes (amor à primeira vista). Ao procurá-la na saída do teatro, vê uma confusão de pessoas perto da carruagem dela e, no meio dessa confusão, vê um pé aleijão (deformado, muito grande) e acha que é de Amélia. Num sarau na cidade, Horácio pede Amélia em casamento. No mesmo sarau, depois da proposta, Horácio conversa com Horácio, que conta a história dos pés de Amélia, que ouve a conversa e decide testar o amor de Horácio: chama-o para conversar em sua casa e deixa que ele veja, "acidentalmente", seus sapatos enormes. Horácio, horrorizado, termina o noivado e se aproxima de Laura. Amélia, entao, se aproxima de Leopoldo, se apaixonando (é recíproco e ele a pede em casamento). Num outro sarau, Leopoldo anuncia o noivado com Amélia e ela revela que os pés dela são perfeitos: Laura é que tem pés deformados e, para não causar escândalo, sua prima Amélia comprava os sapatos. E daí vivem felizes pra sempre, blá, blá, blá...
  • Diva
  • Encarnação
  • Sonhos d'Ouro
  • Lucíola: releitura de "Dama das Camélias", peça teatral, essa obra representa uma mudança nos romances românticos, apresentando como heroína uma prostituta, algo que ia contra a moral e os bons costumes, e um final trágico. Lúcia, protagonista, é uma menina pobre que se prostitui (nome profissional: Lucíola) ainda nova para poder comprar remédios para sua irmã (febre amarela). Seu padrasto, ao descobrir, a expulsa de casa (com 16 anos). Para se sustentar, continua no ramo, abrindo um bordel e virando cortesã de luxo (dos senhores burgueses). Apaixona-se por Paulo, com quem tem relações amorosas, além de "profissionais". Tenta viver uma vida normal com Paulo, mas percebe que sua imagem de prostituta não seria esquecida pela sociedade. Para afastar-se, então, de Paulo, ela sai com outros homens. Ele a procura e ela resolve ser honesta com ele. Não se importanto com a imagem dela, ele volta com ela. Mas ocorre uma tragédia: ela contrai tuberculose (para que ela se redima de seus pecados de prostituição e para que o público a veja como 'coitadinha', Alencar acrescenta a doença e o sofrimento na vida de Lúcia). Paulo compra todos os remédios possíveis (vai a té a Europa, inclusive). Lúcia descobre, então, que está grávida de Paulo: com o choque, falece. Sua morte deixa o público com pena dela, transformando-a em heroína.
  • Senhora: ponto alto do psicologismo romântico, apresenta personagens esféricas e uma trama que muda de foco, mas tem um fim previsível. Aurélia Camargo vive com sua mãe e com seu irmão, doente. Seu pai é um rico fazendeiro, que casou com a mãe de Aurélia, pobre (o avô de Aurélia não aceita o casamento e o pai de Aurélia morre de desgosto). Vicente, o irmão, morre logo no início da trama e a mãe fica muito doente. Seu último desejo é ver Aurélia casada. Aurélia então, para satisfazer a vontade da mãe, expõe-se na janela, sendo cortejada por vários pretendentes. Entre eles: Eduardo, rapaz rico, por quem Aurélia não sente interesse e Fernando Seixas, um rapaz pobre (que se vestia da melhor forma e frequentava os melhores lugares para casar com alguma rapariga rica e poder sustentar a mãe e a irmã > ele vê o casamento como uma escada social), que é correspondido. Eles se apaixonam (a mãe de Aurélia morre em paz), mas Fernando Seixas, às vésperas do casamento com Aurélia, é comprado por um rico fazendeiro (que acreditava que Fernando fosse uma rapaz rico e requintado) por 30 contos de réis para que se casasse com Adelaide, sua filha. O fazendeiro faz isso para não ver sua filha casado com o pobre estudante de direito Torquato. Aurélia então, vendo-se trocada por dinheiro, tranca-se para os homens. Pouco tempo depois, recebe a notícia de que é a única herdeira de seu rico avô fazendeiro, que tinha se arrependido do mal que tinha feito à família do seu filho e pôs sua neta no testamento. Aurélia então, riquíssima, vai a bailes e, quando cortejada, fica colocando preços em seus pretendentes. Um certo tio Artur, ambicioso, fica de tutor de Aurélia e aconselha que ela pare com essa mania de ficar colocando preço nos rapazes, pois isso queimaria a imagem dela. Não dando a mínima para o que o tio aconselhava e o manipulando facilmente, ela manda que ele vá fazer negócios com Fernando Seixas, que ainda não tinha se casado com Adelaide, e que oferecesse para ele 100 contos de réis para que ele terminasse com Adelaide e se casasse com outra mulher, que só conheceria no dia do casamento. Apesar de titubear (dar uma de difícil), Fernando aceita e larga Adelaide. Enquanto isso, Aurélia contrata Torquato como seu advogado por 50 contos de réis, permitindo que ele use esse dinheiro como dote para que se case com Adelaide. Fernando, casando com Aurélia, recebe dela na noite de núpcias, os restantes 80 contos de réis que faltavam para completar o trato dos 100 contos de réis. Ela então trata-o como escravo (não sexualmente falando) e acaba com a raça dele. Vivem durante um tempo casados e ele arranja um emprego num jornal, com o objetivo de conseguir os 20 contos de réis que tinha gasto para poder pagar os 100 contos de réis de volta para Aurélia. Não conseguindo reunir todo o dinheiro, Alencar faz com que ele ganhe na loteria, completando os exatos 20 contos que faltavam. Ele então, entra no quarto dela e lhe entrega os 100 contos, "se comprando" de volta. Ela então, ajoelha ao seus pés e todo aquele blá blá blá romântico de sempre até o "viveram felizes para sempre'. Importante notar que existem, na obra, traços do realismo: Aurélia, por exemplo, não é mais uma personagem linear (ela é esférica, por mais magra que seja), apresentando comportamentos diferentes antes de ser trocada por dinheiro, durante o período que ela esnoba os homens e no momento que se ajoelha aos pés de Fernando. Há também, três críticas principais nessa obra: ao poder manipulador do dinheiro, ao casamento por conveniência e à sociedade patriarcal (ele anula todos os homens próximos à Aurélia, transformando-a em Senhora de si e de todos).

Dos romances regionalistas, podemos destacar os seguintes autores:
  1. José de Alencar: não é dos melhores, mas é dos mais completos. Escreveu, entre outras, as obras: "O Sertanejo", retratando o sertão do Nordeste; "Til", do interior de São Paulo; "O Gaúcho", falando dos pampas (como ele nunca tinha ido lá, foi um verdadeiro erro ele ter escrito sobre o lugar) e "O Tronco do Ipê", passado na Fazenda Boqueirão, interior do Rio; que conta a história de Mário (que Mário?), apaixonado por Alice, filha de uma grande amigo de seu pai que, depois da morte de seu pai, o tratou como filho. Além disso, o pai de Alice herdou todas as terras do pai de Mário. Prestes a se casar com Alice, Mário ouve rumores sobre a morte de seu pai: que o pai de Alice o tinha matado. Dividido entre o sentimento de vingança e a gratidão para com o pai de Alice, ele termina o noivado e pensa no suicídio (EMOOO!). Entra então, na história, o escravo da fazenda, negro Benedito, que revela a verdade a Mário: que seu pai estava se afogando quando o pai de Alice tenta salvá-lo, mas não consegue e enterra o amigo debaixo do Ipê onde Mário tinha passado muitos momentos com Alice (não pensa besteira! eles eram românticos). O motivo de seu pai ter passado as propriedades para o pai de Alice era uma dívida que ele tinha, que podia fazer o filho ficar sem a fazenda. Mário então sai de seu estado EMO e casa-se com Alice. Fim.
  2. Bernardo Guimarães: escreveu, entre outros: "A Escrava Isaura", romance regionalista mais famoso, e "O Seminarista", que conta a história do filho de fazendeiros mineiros, Eugênio, que se apaixona por Margarida, filha da cozinheira da fazenda. Contra o casamento, os pais mandam-no para o seminário, para que vire padre. Ele enrola, para que pudesse voltar para Margarida. Seus pais, então, expulsam-na da fazenda e, junto com os padres do mosteiros, contam para Eugênio que ela tinha morrido. Desolado, ele termina o seminário e vira padre de uma cidadezinha. Atendendo a um chamado de uma moça doente, ele encontra Margarida (tuberculosa). Ele indeciso entre a vida de padre e amar Margarida, fica fora por um tempo, sem avisá-la. Desolada, ela falece. Quando ele retorna, decidido a ficar com ela, ele entra na Igreja e vê seu corpo. Vendo-a morta, ele enlouquece, rasga a batina e some (talvez de balão, não se sabe).
  3. Visconde de Taunay: sua principal obra é "Inocência", que se passa no interior do Mato Grosso e conta a história de Inocência, filha do fazendeiro (machista e rude) Pereira, que zelava muito pela pureza da filha, prometendo-a a um assassino de aluguel, Manecão Doca (para que ninguém mais se aproxima-se da filha). Ocorre que a filha tinha maleita (malária) e, na ida para comprar os remédios em outro estado, Pereira encontra o curandeiro Cirino, que tem remédios para sua filha. Com o tempo, cuidando da saúde de Inocência, ele se apaixona por ela e vice-versa, sem que Pereira desconfie. Nesse meio-tempo, a fazenda hospeda um zoólogo alemão que estudava borboletas (que viadinho!), chamado Meyer. Este, em seus estudos, descobre uma nova e linda borboleta, dando o nome de Inocência. Ofendido, Pereira o expulsa da fazenda. Cirino, desposto a desposar Inocência, pede ajuda ao sábio Cesário, padrinho dela, que morava numa cidade vizinha. Este o aconselha que espere três dias para que tome uma decisão. Manecão resolve visitar Inocência e, percebendo que existe outro interessado na garota (e achando que era o Meyer), vai à procura dele na mesma cidade em que se encontra Cirino. Tico, anão de segurança de Aurélia (exemplo de zoomorfismo: ele vigiava Aurélia como um cão de guarda), diz para Manecão que era Cirino que estava interessado em Aurélia. Manecão mata Cirino na beira da estrada. Sabendo da morte de seu amado, Inocência falece e seu padrinho a enterra ao lado de Cirino. Ao enfiar a cruz no túmulo dos dois, pousa nela uma borboleta, do mesmo tipo que Meyer tinha nomeado Inocência. Final trágico.
  4. Franklin Távora: principal obra é "O Cabeleira", que fala de um bandido que se apaixona, tenta mudar de vida,etc etc... (ela deu poucos detalhes em sala de aula).

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Indendência da América Espanhola (I)

- "releitura" do blog do Cássio

A Espanha viu, no início do século XVII, a ascensão da dinastia Bourbon (mesma dinastia que governava a França, assumir o poder no país ao mesmo tempo em que este estava perdendo sua força na Europa, por mais que ainda tivesse o maior império colonial da América (Índias Ocidentais Espanholas). Foi também em meados desse século (cerca de 1760) que começou o processo de independência desse império colonial espanhol, causado tanto por fatores coloniais quanto problemas na própria Espanha. Antes de vermos sua crise, vejamos como se organizava a América Espanhola:
  • Divisão em vice-reinos: o Vice-Reino da Nova Espanha (sudoeste dos EUA e México), o Vice-Reino do Peru (ambos responsáveis pela extração de metais, em especial a prata) e as áreas periféricas (região do Prata, Colômbia, Venezuela - responsáveis por diversas atividades, como pecuária e agricultura) perfaziam cerca de 13 milhões de km², com cerca de 12 milhões de habitantes no total.
  • Divisão da população colonial:
  1. Chapetones ou peninsulares: elite colonial, representava pequena parte da população, detentora das riquezas e do poder administrativo das colônias (vice-reis, juízes e bispos). Eram todos espanhóis, ligados à Corte.
  2. Criollos: elite colonial nascida na colônia, descendentes diretos de espanhóis, ocupavam cargos administrativos de nível regional (os conselhos municipais - os cabildos e as audiências - cortes de justiça). Representavam pequena parte da população e exigiam mais direitos políticos (para ficarem com mesmo direitos que os chapetones). No século XVIII, ascenderam de forma incrível, transformando-se na classe dominante da América espanhola
  3. Mestiços: filhos de índios com espanhóis, eram livres, exercendo atividades comerciais artesanais e manufatureiras.
  4. Negros: escravos africanos, representavam uma minoria. Junto com os mestiços, formavam as castas.
  5. Índios: nativos, semi-livres, eram obrigados a se submeter ao trabalho na mineração (a mita, originária dos tempos pré-colombianos - incas) ou nas haciendas (fazendas geralmente monocultoras). Existiam as encomiendas, nas quais os senhores das haciendas teriam índios trabalhando em suas haciendas desde que os catequizassem. Os índios formavam a maior parte da população colonial.
Certos fatores, mais que outros, geraram as revoltas na América espanhola. São eles:
  • A influência das idéias Iluministas, que se espalharam rapidamente pela América espanhola (a presença de 20 universidades nas colônias ajudou no rápido alastramento dos ideais iluministas de igualdade jurídica e liberdade de produção e comércio). Os que mais reivindicaram tal liberdade e igualdade foram os criollos. Surgiu tensão entre os criollos e os chapetones.
  • As reformas Bourbônicas, decretadas pelo déspota esclarecido (Absolutista influenciado pelas mudanças ideológicas do momento) Carlos III, tinham o intuito de fortalecer o controle da metrópole sobre suas colônias, em especial contra o avanço da Grã-Bretanha depois da Guerra dos Sete Anos (a Espanha saiu vergonhosamente derrotada). Entre as reformas, destacam-se: a criação de intendências reais, que sobrepujaram o poder dos governadores e corregedores (aldaides); a diminuição da participação de criollos nas Audiências e cabildos, sendo nomeados mais chapetones para os cargos políticos; aumento de impostos, especialmente para cobrir os gastos militares com a proteção do império colonial contra ataques ingleses, principalmente; a expulsão dos jesuítas, que eram considerados muito independentes e suscetíveis a revoltas contra a Coroa; o reforço do Pacto Colonial, embora permitindo comércio entre as colônias, reafirmou a proibição de comércio com outras nações e a criação do Vice-Reino do Prata (atuais Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia), fortalecendo o território contra invasões portuguesas e desenvolvendo a região de Buenos Aires. No geral, as Reformas Bourbônicas representaram uma "nova conquista espanhola da América", retomando o controle metropolitano sobre a colônia, em detrimento do avanço dos criollos.
Vieram então as revoltas propriamente ditas, motivadas pelos confrontos entre criollos e chapetones/peninsulares. Inicialmente, criollos, castas e índios lutaram juntos contra os peninsulares, mas, posteriormente, a luta virou-se contra os criollos também. No geral, a população foi levada à revolta pelos excessivos impostos, pela corrupção na administração colonial e pelos abusos das autoridades. Duas revoltas tiveram mais relevância:
  • Revolta de Tupac Amaru (1780 a 1781): José Gabriel Kunturkanku, ou Tupac Amaru II (afirmava ser descendente da dinastia inca de Tupac Amaru, último imperador inca, dois séculos antes) foi o rico líder mestiço do levante das massas indígenas no Peru e na Bolívia. Lutou pela abolição da servidão indígena (mita), pela eliminação de impostos e pelo direito à ascensão política dos índios. Inicialmente, recebeu apoio da elite criolla contra os espanhóis, mas se retiraram quando o movimento ficou mais radical: muitos brancos eram mortos indiscriminadamente. Sem apoio dos criollos e com divisões internas, Tupac Amaru II, que tinha conquistado o sul do Peru, a Bolívia e o norte da Argentina, teve de ver o fracasso do movimento, sendo capturado, torturado e executado em Cuzco. Conseqüência da revolta: embora tenha fracassado, a revolta serviu de alerta para as autoridades espanholas, que reduziram a mita, substituíram funcionários nos cargos administrativos e instalaram uma corte de justiça em Cuzco.
  • Revolta dos Comuneros (1781-1782): levante de camponeses mestiços e índios, liderados por José Antônio Galan, que contava com o apoio do clero e dos criollos. Com o massacre de brancos, clericais e criollos se afastaram do movimento, que acabou sufocado pela Espanha. Ocorreu na Colômbia e na Venezuela.

Revolução Haitiana

"releitura" do blog do Cássio

O atual Haiti, localizado na ilha de Hispaniola, ao lado da República Dominicana, nos séculos XVII e XVII, foi colônia francesa, com o nome de Saint Domingue. Era a principal colônia da França e a maior produtora de açúcar do mundo, abastecendo grande parte do mercado europeu e gerando o acúmulo de capitais da burguesia francesa. Sua produção era pautada no sistema de plantation (propriedades monocultoras com mão-de-obra escrava). Sua população era composta por meio milhão de habitantes: 35 mil brancos (grand blancs, aristocratas franceses que controlavam as plantations e as assembléias coloniais/governos municipais), 30 mil mulatos (affranchis, livres, sem participação política) e 435 mil escravos africanos. Essa discrepância dos números foi um dos principais fatores que levou Saint Domingue à seu processo de independência: o país era um barril de pólvora, prestes a explodir, caso ocorresse qualquer rebelião de escravos. A ilha também era um lugar de extremo racismo por parte dos brancos, estimulados pela legislação francesa (outro motivo era a religião: oficalmente, Saint Domingue era católica, mas parte dos negros e mulatos realizavam cultos - vodu, sendo mais discriminados pelas elites).

Veio então, no final do século XVIII (1789), a Revolução Francesa com seus ideais de liberdade, igualdade e abolição da escravidão, dando esperança aos negros e mulatos. Esperanças estas que foram frustradas pelo governo revolucionário e pelos grand blanchs, o que gerou grande tensão na ilha. Simultaneamente, a elite começou a se dividir e lutar pelo controle das assembléias coloniais e governos municipais e os mulatos organizaram-se em bandos armados, atacando a elite. tanto os mulatos quanto os grand blanchs usavam escravos na luta. Instalou-se o caos político na ilha, iniciando aí a Revolução Haitiana, que vai de 1791 a 1804, quando o país proclamou sua Independência.

A Revolução Haitiana baseou-se na guerra racial (mulatos/negros x brancos), na revolução social (escravos x senhores) e na luta pela libertação da colônia (negros/mulatos x ingleses/espanhósi/franceses). As principais causas foram: as grande rivalidades entre escravos e senhores, acentuadas pela quantidade de escravos de Saint Domingue, os ideais de liberdade e igualdade disseminados pela Rev. Francesa e a dificuldade da metrópole (França) em manter militarmente o controle na ilha (a França estava envolvida em outras guerras na Europa - a própria Rev. Francesa e as Guerras Napoleônicas quando pode enviar tropas para a ilha, a situação já estava incontrolável).

Dividindo a Revolução:
  • Agosto de 1791: início da Revolução, os escravos se rebelam contra seus senhores. Instala-se o caos no país.
  • Governo de Sonthonax: em 1792, os Jacobinos enviam o comissário Léger Sonthonax para comandar o país. Detendo poderes especiais, Sonthonax instala um regime ditatorial, perseguindo os brancos, aliado aos mulatos.
  • 1793: invasão da Espanha (que dominava Santo Domingo, na mesma ilha de Saint Domingue) - utilizando tropas de negros da ilha, comandadas pelo escravo Toussaint L'Overture, e invasão da Inglaterra (que tenta tomar a colônia dos franceses), ambas apoiadas pela elite branca. Para obter mais apoio para enfrentar espanhóis e britânicos, Sonthonax decreta a abolição da escravidão (ratificada pela Convenção Nacional em 1794). Com a abolição, L'Overture passa para o lado dos franceses. Em 1795, os espanhóis desistem, enquanto os ingleses só deixaram a ilha em 1798.
  • Toussaint no poder: juntamente com Jean-Jacques Dessalines e Henri Cristophe (também líderes negros), Toussaint derrota as forças mulatas e assume o poder. Grande parte da população tinha sido dizimada ou migrado e a produção tinha cessado durante as lutas. Toussaint institui um regime militar ditatorial, com trabalho forçado nas plantations estatais, tentando regularizar a produção e exportação de açúcar. Sua popularidade despencou.
  • Leclerc invade a ilha: Charles Leclerc, general de Napoleão, invade a ilha por ordem do imperador, com 20 mil soldados. Inicialmente vitorioso, Leclerc consegue capturar e enviar Toussaint para uma prisão na França, onde morre. Tentando restaurar a escravidão, Leclerc desencadeou mais revoltas que, juntamente com doenças, dizimaram o exército francês. Leclerc, inclusive, morreu de febre amarela, sendo substituído por Rochambeau, que brutalmente retomou a guerra racial. Dessalines e Cristopher, no comando dos negros, reiniciaram os massacres. Em 1803 os franceses bateram em retirada, perdendo, no total, 40 mil bons soldados. A parte oriental da ilha, Santo Domingo, continuou sob domínio francês até retomada espanhola, em 1809.
  • 1° de Janeiro de 1804: Proclamação de Independência de Saint Domingue, feita por Dessalines, que assume o poder como Imperador Jacques I (até 1806). O país assume o novo nome de Haiti, que significa "terra das montanhas", na língua nativa.

A Revolução Haitiana trouxe, às elites das outras colônias na América, um tremendo medo em relação à revoltas de escravos, obrigando-as a adotar posturas conservadoras de cautela, evitando desentendimentos com suas metrópoles. As constantes guerras e revoltas no Haiti durante a Revolução, levaram a produção do país a ruínas, gerando colapso econômico e empobrecimento do país - até hoje irrecuperável. A indenização que teve de ser paga à França para que esta reconhecesse a independência também pesou muito na economia fragilizada do Haiti.
Em 1821, foi adotada a República no país, sendo que de 1822 a 1843, o país dominou toda a ilha de Hispaniola.

domingo, 17 de agosto de 2008

Transferência da Família Real para o Brasil (I)

Contextualizemos, pois, a transferência da Família Real portuguesa para sua maior colônia para entendermos os motivos que a levaram a sair de Lisboa e instalar, no Rio de Janeiro, a nova capital do Império Português.

A Europa, no início do século XIX, se vê em estado de crise: Napoleão, rompendo tratados de Paz previamente instituídos, inicia uma série de invasões a países vizinhos, iniciando uma fase de expansionismo francês, através das Guerras Napoleônicas. Para estabelecer um comércio monopolista e para quebrar economicamente sua principal rival, a Inglaterra, Napoleão decreta, no ano de 1806, o Bloqueio Continental, impedindo países sob seu controle de fazer comércio com os ingleses, o que impediria a Inglaterra de escoar sua produção. Portugal, que se mantinha neutra, recebeu, em 1807, um ultimato de Napoleão para que se tornasse adepta do Bloqueio, senão seria invadida por tropas francesas. Não sendo isso suficiente, também a Inglaterra expele um ultimato a Dom João, príncipe regente português, dizendo que, se aderissem ao Bloqueio, seriam os ingleses que os invadiriam. Portugal se vê encurralada. Mas, para salvação de Portugal, os ingleses oferecem, às costas de Napoleão, um trato: Portugal não aceitaria o Bloqueio e navios ingleses (15) transfeririam a Família Real para o Brasil, abasteceriam o mercado brasileiro, como era feito com Portugal, e montariam uma comissão em Lisboa para manter D. João informado. Dom João, então, assina o Tratado Secreto em maio/junho de 1807, mas se recusa a sair imediatamente, com o intuito de fazer os preparativos para a viagem: recuperar 55 navios, que levariam obras de arte, mais de 60 mil livros da biblioteca particular de D. João, documentos de Estado, uma prensa e diversas coleções reais, além de milhares de nobres.

Ao contrário do que era dito na época, a transferência da Família Real não era de caráter provisório/temporário. Se o fosse, Dom João não teria tanta preocupação em preparar os detalhes da viagem sob o risco de invasão francesa. Na verdade, já era um plano da Corte Portuguesa se estabelecer no Brasil desde o século XVI: Napoleão e seu ultimato foram apenas a "gota d'água".
Fatores que indicam o caráter permanente da transferência:
  1. planos de recuperação econômica (de Portugal, que estava com a economia em declínio);
  2. afastamento de revoluções e guerras européias, que expandiam ideais liberais e anti-absolutistas (ideais da Rev. Francesa e do Código de Napoleão);
  3. preservação do Absolutismo em detrimento das novas Repúblicas que surgiam;
  4. fim das ameaças de invasão espanholas (a Espanha afirmava que Portugal era território espanhol e devia ser reintegrado, fazendo a União Ibérica, tão sonhada);
  5. e expansão sobre territórios coloniais espanhóis na América.
Todos esses fatores capacitariam a criação do "VASTO IMPÉRIO LUSO-BRASILEIRO", tão idealizado pela Coroa durante os séculos anteriores.

A viagem deu-se de maneira tranqüila, no início. Até que duas tempestades abateram os 70 navios da comitiva, sendo que a segunda tempestade dividiu-os em dois grupos: o maior deles continuou na rota para o Rio de Janeiro, o segundo grupo perdeu o rumo e decidiu aportar no porto mais próximo, que era Salvador. Nesse segundo grupo estava o navio que transportava todos os possíveis governantes do Brasil (D. Maria, a Louca; D. João e todos os ligados diretamente a eles). Viajavam todos juntos caso a frota fosse atacada, para que pudessem escapar mais rapidamente.

Aportando no dia 22 de janeiro, em Salvador, D. João concedeu, pessoalmente, audiências para ouvir pedidos e reclamações da população de Salvador (para mostrar-se acolhedor e prestativo como príncipe regente e fazer a população simpatizar com seu governante). Nessas audiências, realizou a venda de títulos de nobreza para grandes comerciantes/fazendeiros. Dias depois, com a Carta Régia, Dom João declara a Abertura dos Portos brasileiros às nações amigas (no caso, a Inglaterra), o que definitivamente pôs abaixo o Pacto Colonial, prejudicando os reinóis (comerciantes monopolistas portugueses) e beneficiando as elites agrárias brasileiras, agora com liberdade de comércio.

Dia 3 de fevereiro, a comitiva de D. João se encontra, no porto do Rio de Janeiro, com o resto da frota que tinha saído de Portugal, que ainda o estava esperando para poder desembarcar. A cidade do Rio tinha sido preparada para receber a Família Real, mas não a quantidade gigantesca de nobres que a acompanhavam. O governador-geral da cidade mandou que os casarões fossem desocupados, afixando uma placa nas portas da casa com os dizeres PR (Príncipe Regente). Avacalhador como ainda é hoje, o povo do Rio logo lia nas letras PR "ponha-se na Rua".

Estabelecendo no Rio a capital do "Vasto-Império", Dom João planejou a construção da infra-estrutura da capital: mandou construir prédios, pavimentar e iluminar as ruas, estabeleceu Ministérios e instituições públicas do Estado português, revogou o Alvará de 1785, que proibia a construção de manufaturas na colônia, criou e armou o Ministério da Defesa com fábricas de armamento e munição, estimulou a produção de produtos exportáveis (que passaram de 26 para 132), mandou criar o Jardim (Horto) Botânico do Rio de Janeiro, com o intuito de aclimatar espécies trazidas da Europa para consumo interno e exportação, entre outros.

Uma outra medida tomada por Dom João foi a criação do Banco do Brasil, que operava, especialmente, a conversão de moeda estrangeira (libra) e a cunhagem de moedas (outro fator que indica o caráter permanente da vinda para o Brasil). Em 1821, ao voltar para Portugal, Dom João esvaziou as reservas do Banco do Brasil, levando-o a falência e ao fechamento. Várias tentativas foram feitas de recuperar o Banco mas apenas com o Visconde de Mauá, o BB ficou popular e mais abrangente. Decaindo a era Mauá, o banco novamente faliu, sendo assumido pelo governo e nunca mais falindo.

Em 1810 são assinados os tratados de Paz, Aliança, Comércio e Navegação (tratados de 1810) com a Inglaterra, favorecendo-a no sentido de que as taxas alfandegárias cobradas aos ingleses são menores do que as cobradas aos demais países, incluindo Portugal. Uma cláusula nunca foi cumprida: o fim do tráfico negreiros, gerando cobranças inglesas nas décadas seguintes (Lei Bill Aberdeen, dizia que, se o Brasil não acabasse com o tráfico em 5 anos, seria invadido) e o conseqüente fim do tráfico (Lei Euzébio de Queiróz). Tais tratados, no geral, causaram uma retração do processo manufatureiro do Brasil, já que compensava muito mais comprar os produtos ingleses do que produzir, com menos qualidade, e ter que vender - os lucros não eram altos o suficiente. Gerou dependência dos produtos manufaturados ingleses e descapitalização do Brasil (o dinheiro não ficava aqui: era investido nas manufaturas inglesas ou em empreendimentos industriais na Europa).

Para tentar igualar o nível cultural do Rio ao nível de Lisboa, Dom João trouxe também missões artísticas e científicas, as últimas sendo responsáveis pelo mapeamento do céu e do território brasileiros e das descobertas científicas propiciadas pela enorme biodiversidade do país. Trouxe espetáculos cênicos, exibidos no Teatro Municipal do Rio (também construído nessa época). Para a elite intelectualizada, vieram as Universidades de Direito e Medicina, juntamente com a imprensa régia.

A Crise do Sistema Colonial nas Américas

(especialmente nas colônias portuguesas - Brasil)

- Contexto Histórico

É necessário entendermos primeiramente o que era e em que se baseava o Sistema Colonial (do século XV ao XVIII) para, depois, entendermos como se deu a sua crise estrutural e seu declínio irreparável.

Primeiramente, o Colonialismo faz parte de um "pacote" de medidas políticas e econômicas do Mercantilismo, espécie de sistema de produção que sucedeu o Feudalismo e precedeu o Capitalismo. Baseava-se, especialmente, no acúmulo primitivo de capital, sendo que, nessa época, dominava o capital comercial (gerado pela troca/comércio de produtos, gerando lucro).

Veio então, para acabar com o Mercantilismo e iniciar o Capitalismo, a Revolução Industrial Inglesa da segunda metade do século XVIII. As características do Capitalismo chocavam-se com as práticas mercantistas: enquanto o Mercantilismo pregava o Colonialismo, os monopólios, protecionismos e o Pacto Colonial, o Capitalismo trabalhava com a produção em larga escala, necessitando da ampliação dos mercados consumidores, da obtenção de matérias-primas das mais variadas, entre outros, o que fez o Pacto Colonial se tornar um entrave e entrar em colapso. A partir de então, o capital dominante é o industrial (provindo da produção, não da troca).

Além do Capitalismo, surgiram várias teorias e ideais que questionaram as práticas mercantilistas: o Liberalismo Econômico e os ideais iluministas pregavam, acima de tudo a liberdade (um no campo econômico e outro no campo social); o Liberalismo Econômico foi como que um suporte teórico das práticas capiitalistas, pregando a liberdade de produção e comércio.

Certos movimentos também abalaram muito as já enfraquecidas bases do Antigo Sistema. Os principais exemplos que podem ser citados são a Independência dos Eua e a Revolução Francesa que colocaram em prática os ideias luministas e liberais, acabando (na França) com o Absolutismo, com o Mercantilismo e, conseqüêntemente com o Colonialismo.

Além de todos os fatores externos que alavancaram a Crise, o Antigo Sistema Colonial teve problemas com as próprias colônias: grande parte da população (incluindo parte das elites), excluída de participação político-administrativa, sem a possibilidade de ascenção religiosa, tendo de pagar altos impostos para a metrópole e reinvidicando mais autonomia e liberdade de produção/comércio, passou a ver o Pacto Colonial desnecessário e opressor, entrave para o desenvolvimento das elites agrárias.

Somando todas as características históricas que apontam para a crise estrutural do Sistema Colonial, vemos o motivo do surgimento de movimentos contestando a ordem colonial vigente, movimentos estes chamados separatistas.

  • NÃO CONFUNDIR SEPARATISTA COM NATIVISTA!!
Movimento separatista é aquele que tem com intenção separar a colônia da metrópole, questionando o Pacto Colonial (exemplos: Conjuração Baiana e Inconfidência Mineira). Já movimento nativista é um movimento regional, com causas regionais, que não questiona o Pacto Colonial e, sim, quer que este funcione como deveria (exemplos: revolta de Beckman, guerra dos Emboabas, revolta de Felipe dos Santos e guerra dos Mascates).


A Inconfidência Mineira teria culminado em Vila Rica, na região das Minas Geraes (com e mesmo), em 1789, se não tivesse sido delatada por um dos inconfidentes. Foi especialmente motivada pela política fiscal (de impostos) portuguesa e pelas Reformas Pombalinas (Marquês de Pombal, primeiro-ministro português da época, expediu diversos decretos com intenção de reestruturar a política econômica colonial, aumentando impostos, especialmente) - a revolução ocorreria na derrama (cobrança pesada de impostos que ocorria periodicamente de forma muito violenta) para canalizar a fúria do povo contra o governo e contra os impostos. Foi influenciado pela Revolução Industrial, pelo Liberalismo Econômico, pela Independência dos EUA e pelo Iluminismo. (NÃO foi influenciado pela Rev. Francesa, pois ocorreu simultaneamente a esta!) Pretendia separar o estado de Minas Geraes do Brasil (estituindo a capital em São João del Rey), instalar uma República no novo país, dar liberdade de produção e comércio, criar Universidades e condenar, moralmente, a escravidão (ou seja, na prática, a escravidão ainda era aceita, até porque todos os 12 inconfidentes possuiam escravos em suas terras).

Foi um movimento de cunho elitista, sendo que 11 dos inconfidentes eram da elite da sociedade, todos instruídos. O restante e mais famoso, Tiradentes, não era do povão, como costuma-se dizer: possuia duas pequenas propriedades com 8 escravos em cada uma, trabalhava de alferes e de dentista e ainda fazia emprésti mos de dinheiro a juros, mostrando que ele tinha um certo status. Até porque 11 homens instruídos da elite não iriam ser liderado por um reles plebeu!

O movimento fracassou pois um dos inconfidentes, em troca do perdão de grande dívida com o governador, forneceu informações sobre os demais inconfidentes e sobre a data da rebelião. A derrama foi adiada e, dos outros 11 inconfidentes, 10 foram presos e condenados à prisão perpétua e um (Tiradentes) foi condenado à morte por liderar o movimento: foi enforcado no dia 21 de abril de 1792, sendo seu corpo transferido para Vila Rica, onde foi esquartejado (cortado em pedacinhos).Os 9 presos foram posteriormente perdoados e degredados (mandados para o exílio).

Motivo pelo qual somente Tiradentes foi condenado à morte: diferentemente dos demais inconfidentes, Tiradentes não tinha relação sangüínea (nem direta nem indireta) com a nobreza portuguesa.


A Conjuração Baiana, também chamada por Revolta dos Alfaiates, ocorreria em Salvador, Bahia, no dia 20 de Outubro de 1798, se não tivesse sido reprimida antes mesmo de ocorrer. As motivações para o movimento incluiam o declínio econômico da cidade desde a mudança da capital para o Rio de Janeiro e as influências dos revoltosos eram: a Revolução Industrial, o Liberalismo Econômico, a Independência dos EUA, Iluminismo e Revolução Francesa (9 anos antes), principalmente os dois últimos. Pretendiam instalar no novo país uma República Jacobina, como na França, acabando com a escravidão e com os preconceitos raciais, ao mesmo tempo que daria liberdade de produção e comércio.

O movimento era de cunho popular: cerca de 100 mil pessoas (entre elas alfaiates, artesãos, pequenos comerciantes, escravos e ex-escravos) foram atraídas por suas propostas , sendo que os líderes também eram pessoas comuns: João de Deus e Manuel Faustino, ambos alfaiates; Lucas Dantas, um negro alforreado (ex-escravo) e Luiz Gonzaga, soldado. Também as elites intelectualizadas (Loja Maçônica Cavaleiros da Luz) , num primeiro momento, apoiaram o grupo, que crescia com o tempo e já fomentava uma revolução armada, que tinha data marcada para se realizar (20/10/1798). O Estado, sabendo disso, reprimiu o movimento (com apoio da elite senhorial): executou os líderes e posicionou tropas na cidade no dia 20 de Outubro.

¿Por que Tiradentes é tido como herói?
Porque, quando a República se instalou no Brasil, ela precisava de figuras heróicas que representassem seus ideiais, que não alteravam profundamente as estruturas sócio-econômicas do país. Daí, não seria possível escolher como herói alguém que tivesse pregado igualdade, liberdade e fraternidade, como os líderes da Conjuração Baiana. Seria necessário alguém da elite, separatista e republicano. Zás! Tiradentes era o cara perfeito! E é por isso que no dia 21/04 a gente não vai pra escola e fica dormindo até tarde.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

A Questão da Terra

Para entender a distribuição e os problemas relacionados à terra (ou à posse desta) no Brasil de hoje, precisamos olhar para o passado:
  • Colonização: a Coroa tinha que incentivar as pessoas para virem para o Brasil, para povoá-lo. Como aqui era só mata, mosquito e índio, o único argumento que convencia era a terra: grandes extensões de terra doadas para poucas pessoas. Essas grandes porções de terra que eram doadas pelo rei, eram chamadas Sesmarias. A terra, para quem viesse para cá, significava poder, significava riqueza. E isso se manteve por um longo tempo.
  • 1850: veio a chamada Lei de Terras, que dizia que somente quem comprasse as terras teria direito a adquiri-las (teria de haver uma escritura, comprovando compra e posse da terra). Como só quem tinha dinheiro o suficiente para comprar as terras era quem já detinha a maior parte delas (latifundiários). Surgiram então dois tipos diferentes de brasileiros (além do latifundiário): os posseiros, que empossavam e cercavam as terras "sem-dono" que encontravam para trabalharem e subsistirem e os grileiros, que cercavam terras "sem-dono" e forjavam escrituras, colocando-as em gavetas com grilos, para dar um aspecto antigo ao "documento". O local mais "disputado" por grileiros era o Pontal do Paranapanema (divisa entre SP e PR, cortada pelo rio Paranapanema).
  • 1964: Os militares tomam o poder, derrubando o presidente João Goulart ( o "Jango"), que era tido pelos militares como comunista por pregar a reforma agrária. O que estranha é o fato de que, após tirá-lo do poder, Castello Branco (marechal-presidente) estituiu o Estatuto da Terra, que era um projeto de reforma Agrária. Contraditório? No fundo, não. Foi só de fachada. O Estatuto permitia ao governo tomar terras que ele considerasse improdutivas sem muita cerimônia, mas não permitiu uma mudança profunda no sistema fundiário de produção. Nos anos de ditadura militar, os conflitos entre posseiros e grileiros se disseminaram por todo o território nacional, dando destaque para a divisa entre os estados do Pará e do Tocantins, numa região chamada de Bico do Papagaio. Um caso muito famoso foi o massacre de Eldorado dos Carajás ( a PM foi apaziguar sem-terras numa invasão e o caso acabou em muitas mortes de militantes sem-terra).
  • 1988: Nova Constituição legalizando a reforma agrária em terras improdutivas(pagando aos proprietários o valor da terra em Títulos da Dívida Pública, que podem ser trocados por dinheiro, mas não são estáveis), para realizar o plano de Sarney (Plano Nacional de Reforma Agrária) de assentar 1,5 milhões de famílias. Mas, surgiu um entrave: a bancada ruralista (entenda-se: latifundiários do Congresso) advogou em causa própria para considerar terras capinadas como terras produtivas (para a pecuária extensiva), o que acabou com o plano do governo. No final, foram assentadas 150 mil famílias, 10% do planejado.

Hoje em dia, dados da agricultura e pecuária brasileiras:

  • O solo do Brasil é horrível. Para melhorar essa situação, são necessárias pesquisas na área de tecnologia e, principalmente, fertilizantes, que o Brasil importa e/ou produz (Petrobras). Principais agentes nos fertilizantes: Nitrogênio (dá forma à planta), Fósforo (fortalece as raízes) e Potássio (regula o metabolismo).
  • Distribuição de terras:
- Minifúndios: propriedades com menos de 100 hectares (ha), que perfazem cerca de 90% do número de estabelecimentos rurais no Brasil, ocupando cerca de 20% da área agricultável do país (área da agropecuária = 2.200.000 km², que representa +/- 25% da área do Brasil). Produzem para o mercado interno e/ou para subsistência, usando muita mão-de-obra em suas lavouras.
- Latifúndios: propriedades com mais de 1000 ha, que representam cerca de 1% do número de estabelecimentos, que ocupam, juntos, 90% da área agricultável brasileira. Produzem para o mercado externo, tendo maquinário avançado e automatizado, que não demanda muita mão-de-obra. Podem também ser usados para pecuária extensiva, não necessitando de quase nenhuma mão-de-obra.
  • Agricultura X Pecuária: além da quantidade de tempo necessária para se conseguir retorno do investimento em agricultura, essa atividade demanda muito dinheiro (mão-de-obra, fertilizantes, maquinário) e não tem produtividade garantida, já que depende muito de condições naturais (condições climáticas, condições do solo...). Em contrapartida, está a pecuária, que não necessita de muitos recursos a longo prazo, não demanda mão-de-obra e traz muitos recursos para seus invetidores (como diria tio F. Mendes: "criar gado é dinheiro na mão", fácil e rápido).
  • Emprego Sazonal: "o conceito de 'pessoal ocupado na agropecuária' não deve ser confundido com o de 'população ativa residente no meio rural'. há residentes no meio rural que trabalham nos setores econômicos urbanos, assim como há trabalhadores agrícolas que residem nas cidades. Além disso, a economia rural ultrapassa os limites da agropecuária, pois inclui atividades - cada vez mais significativas - ligadas ao turismo e ao lazer" (esses últimos, como diria tio Fernando, "são os famosos hotéis-fazenda que vocês vão nas férias com a família"). Emprego sazonal é isso: trabalhar num lugar e morar no outro. E isso ocorre muito freqüentemente no Brasil. (Parágrafo retirado da página 259 do livro. Mais detalhes, números e gráficos na mesma página.)
Não utilizar esse resumo como única fonte de estudo. Ainda mais porque as provas de geografia, ultimamente, não são só questão de estudo. O bom humor do professor ajuda muito também...

Industrialização Brasileira e Espaço Industrial

Capítulo 6 = base histórica para entender o 7
Processo Histórico de industrialização no Brasil
  • 1930 - Getúlio Vargas acaba com a política do café com leite e implanta uma política econômica de substituição de importações, produzindo no Brasil o que antes era importado. As principais indústrias, de base e de bens de consumo não-duráveis, foram instaladas no sudeste, sendo bancadas pelo capital estatal e privado-nacional (burguesia cafeeira), respectivamente. Foi o primeiro e, de certa forma, maior surto de desenvolvimento industrial no país.
  • 1955 - Juscelino Kubitschek inicia a política dos "50 anos em 5", planejando industrializar o Brasil a passos largos. Continuou com o modelo de substituição de importações, mas aceitouo a entrada de capital multinacional, em especial na indústria de bens de consumo duráveis (automobilística, por exemplo). Mudou o Distrito Federal da cidade de Guanabara para o nordeste do estado de Goiás, instituindo a capital federal na recém construída Brasília. A economia industrial do Brasil baseia-se no tripé econômico capital estatal - capital privado-nacional - capital multinacional.
  • 1964 - o marechal Castello Branco deu um golpe de estado, iniciando o período chamado de ditadura militar. Com a ditadura militar, ocorreu, no início da década de 70, o chamado milagre econômico: obras gigantescas financiadas por capital estatal (ponte Rio-Niterói, Trans-Amazônica, ascenção da PetroBrás), economia cada vez melhor. Para poder financiar suas obras faraônicas, o governo fez uma grande quantidade de empréstimos de outros países. Na época, os juros eram baixíssimos, mas veio a crise do petróleo em 73, que elevou o preço do petróleo e aumentou exacerbadamente os juros, fazendo com que a dívida multiplicasse, de forma a ficar impagável. A crise do petróleo afetou mais diretamente ainda a economia pois o Brasil, desde Vargas, era um país rodoviarista, necessitando diretamente de combustíveis para o escoamento da produção. Com os juros altos, veio a inflação e, conseqüentemente a recessão (déficit na economia). A década de 80 é conhecida como "década perdida".
  • Década de 90 -com o fim do regime militar, vem também o fim do sistema de substituição de importações, trocado pelo novo modelo baseado no neoliberalismo econômico, que prega uma menor intervenção do estado na economia (como diria F.Mendes: "estado mínimo, economia máxima") e uma maior participação de capital multinacional na economia dos países. A participação do capital estatal, então, diminui no tripé econômico, dando mais lugar para o capital multinacional ( ou transnacional). Os governos, agora democráticos (escolhidos pelo povo), tentam reformar a economia e tirar o país do estado de recessão.
- Sarney: tenta mudar a moeda e congelar os preços para controlar a inflação galopante. Fracassa.
- Collor: consegue, por algum tempo, estabilizar a inflação com o Plano Collor e a mudança de moeda, mas é obrigado a renunciar (Impeachment) devido a acusações de esquema de corrupção.
- Itamar: vice de Collor, assume no fim do mandato e, com Fernando Henrique como Ministro da Fazenda, cria o plano Real, que iguala a moeda ao dólar e freia a inflação.
- FHC: elege-se em 1994 com a fama do Plano Real. Sua principal bandeira é a neoliberal: ele reduz a participação do Estado na economia ao privatizar várias companhias estatais, como a Vale do Rio Doce. Perde popularidade em seu segundo mandato (1998-2002) pois a economia declina e o Real chega a valer 1/4 do dólar.
- Lula: "do povo", Lula chega ao poder com propostas inovadoras na parte social. A economia melhora, apesar de todos os escândalos. Isso continua no segundo mandato, que dura até hoje. No segundo mandato (2006-2010), o porta-bandeira de Lula é o PAC, Programa de Aceleração do Crescimento, que destina verbas para obras de infra-estrutura (hidrelétricas, rodovias, conjuntos habitacionais, etc.). Um dos objetivos é a criação de uma nova bacia de drenagem, de modo a escoar melhor a produção, criando e reestruturando os eixos (ou vias) de circulação (rodovias, hidrovias, ferrovias), ajudando a desenvolver melhor as regiões fora do eixo Centro-Sul (Região Concentrada).

Observação: O Brasil, com a introdução do sistema neoliberal econômico, entra no mercado global, fazendo intercâmbio multidirecional (ligado a vários mercados ao mesmo tempo, não dependendo exclusivamente de um) e virando um Global Trader.

Conceitos:
- Custo Brasil: conjunto de fatores negativos internos que criam entraves para a competitividade e para o crescimento econômico do País.
- Risco Brasil: fator (risco-país) que indica a situação do país em relação à confiabilidade e rentabilidade dos investimentos. Por exemplo, quanto menor o Risco Brasil, mais fácil é atrair investidores para cá.


Capítulo 7 - O Espaço Industrial

A manutenção/ocupação de um espaço industrial se dá de maneira cíclica:
  • Economia de aglomeração (ou de escala): fatores como capital e mão-de-obra disponíveis, vias de circulação, presença de mercado consumidor, matéria-prima e energia que criam um espaço favorável para a instalação e o desenvolvimento de um núcleo industrial em certo local.
  • Concentração industrial: quando instaladas as primeiras indústrias numa região, outras indústrias similares são atraídas, aumentando a competitividade, baixando os preços e aumentando a quantidade de empregos. Isso é um atrativo para populações de outras localidades próximas, que começam a trabalhar nesses núcleos industriais (geralmente urbanizados).
  • Saturação: depois de certo tempo, o núcleo começa a saturar. Muita competitividade, menores salários, desemprego, aumento dos sindicatos, da burocracia, dos impostos e, conseqüentemente, queda drástica da qualidade de vida (mais stress, poluição, etc.). Isso gera um desinteresse por aquele espaço e uma tendência ao deslocamento das indústrias, da mão-de-obra e assim por diante.
  • Deseconomia de aglomeração (ou de escala): junção dos fatores negativos (saturação) que leva os investimentos a procurar locais com melhores vantagens comparativas (economia de escala). Assim, há uma desconcentração industrial na região que antes era concentrada. Pelo menos é assim na teoria.
  • Descentralização na concentração: na prática não ocorre a desconcentração (pelo menos não no Brasil). O que ocorre no Brasil é uma descentralização na concetração, ou seja, a região que era concentrada, começa a buscar áreas vizinhas para escoar produção, investimentos, mão-de-obra, de modo a ter um mercado mais complexo, com maior variedade de produtos (comodidades industriais e comerciais). Isso é visível na região concentrada (Sudeste-Sul): São Paulo ficou saturada, mas não ocorreu uma desconcentração, apenas parte das indústrias foram para o interior e para os estados vizinho que, interligados com São Paulo, ainda formam uma região concentrada (não-centralizada).

Relação entre industrialização entre industrialização e metropolização:
com o advento de indústrias numa região, vêm com ela oportunidades de investimento em vias de circulação (para integrar aquela região), em conjuntos habitacionais (para os trabalhadores) e em outras indústrias que complementem ou que competam com as indústrias já estabelecidas. Investimento atrái investimento, e assim o núcleo industrial se torna um núcleo urbano, que cresce e vira uma metrópole.

Triângulo SP-BH-RJ
Todas as três cidades localizadas no Sudeste, coração econômico e industrial do país. São Paulo cresceu especialmente com o café e com os imigrantes. Estando perto do porto de Santos, um dos maiores do país, atrái indústrias. Belo Horizonte, planejada para ser um pólo industrial que recuperasse Minas do declínio da mineração, atraiu os investimentos das elites mineiras. Rio de Janeiro, antes de perder o título de capital federal, tinha altos investimentos estatais e abundância de vias de circulação (característica que vem desde Brasil-Colônia). Ligando essas três cidades , temos um triângulo com os maiores tecnopólos brasileiros (interior de SP), com as principais indústrias de base (MG) e o Vale do Paraíba, região que liga SP-RJ, formando a suposta megalópole incompleta brasileira, com vários pólos industriais. São todas as três cidades com ampla influência na economia nacional.

Industrialização das regiões brasileiras (alguns aspectos):
  • Sudeste: triângulo SP-BH-RJ, grande integração dos estados, alta concentração de vias de circulação, mão-de-obra qualificada, centro econômico do país (vantagens comparativas).
  • Sul: com a imigração e com a descentralização da concentração industrial do Sudeste, o Sul pôde desenvolver seus pólos industriais, com mão-de-obra qualificada e grande ligação com o Sudeste.
  • Centro-Oeste: alavancado pelo Sudeste e pela transferência da capital para Brasília, o Centro-Oeste tem grande parte de suas indústrias voltadas para o agronegócio (em especial, na produção de grãos - exportação).
  • Nordeste: a industrialização do Nordeste é associada, principalmente, ao modelo de substituição de importações que gerou uma desconcentração industrial nacional e uma concentração das indústrias em nível regional, juntamente com a valorização das indústrias nacionais. Com a criação da Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste, 1960), com incentivos fiscais (impostos de produção menores ou inexistentes), investimentos foram levados do Centro-Sul para o Nordeste, para áreas de produção de energia (hidrelétricas), pólos petroquímicos(Camaçari-BA). Mas tudo isso gerou uma concentração (de renda e de produção) nas metrópoles e cidades litorâneas ligadas, principalmente, às capitais dos estados. A tentativa agora é interiorizar a produção e criar novos pólos industriais (tecnopolos), com incentivos do governo (PAC, por exemplo).
  • Amazônia: existem algumas aglomerações industriais (Zona Franca de Manaus, por exemplo) na região amazônica, graças a investimentos nacionais e multinacionais que foram atraídos por incentivos da parte do governo (isenção de impostos). Além da Zona Franca, existem vários focos de industrialização, especialmente controlados por indústrias metalúrgicas/siderúrgicas (Vale do Rio Doce, especialmente, Alumar, Alunorte, etc.).

Eixos de industrialização (Rio e São Paulo):
  • Com o intuito de se formar uma megalópole conurbada, Rio e São Paulo (décadas de 40,50) tiveram o desenvolvimento industrial seguindo a Via Dutra, rodovia que liga as duas cidades pelo Vale do Paraíba. Com a mudança da capital para o Centro-Oeste (60) e conseqüente estagnação da economia carioca (fuga de investimentos), as indústrias pararam de avançar pelo Vale do Paraíba. Vendo isso, as indústrias de São Paulo começaram a migrar para o interior do Estado e para o litoral, ligando, num triângulo imaginário, São Paulo - Campinas - Santos. Para o litoral, havia Santos, grande porto de importação/exportação. Para o interior, havia Campinas, Ribeirão Preto, São José dos Campos: cidades com vantagens comparativas (como mão-de-obra qualificada e matéria-prima) que abrigam, hoje, os principais tecnopólos do País.

Divisão Territorial do Trabalho e relação Centro-Periferia.
O Sudeste, como pólo impulsionador do progresso do País, pode ser comparado como um país desenvolvido (central) no contexto mundial, enquanto o resto do país é comparado com países periféricos. Tais comparações se dão no seguinte sentido: o sudeste, assim como os países desenvolvidos, tem a mão-de-obra qualificada, os melhores produtos, a alta tecnologia; as demais regiões, como países periféricos, têm a mão-de-obra barata, a matéria prima abundante, as oportunidades de investimentos mais rentáveis, impostos mais baratos... Nessa relação, o Sudeste atrái a matéria prima e a mão-de-obra do resto do país, gerando a riqueza e suprindo o país com produtos.

Histologia Vegetal

Estudo dos tecidos vegetais e suas funções.

Para analisarmos os tecidos, que são agrupamentos de células especializadas, primeiramente vejamos as estruturas das células vegetais:
Estruturas:
I- Parede celular ( de celulose)
II- Membrana Plasmática
III- Vacúolo
IV- Núcleo
V- Citoplasma
VI- Parede Celular primária
VII- Parede celular secundária
(de lignina ou suberina)


Tecidos vegetais

Os tecidos embrionários, que são os meristemas, formam os tecidos adultos.
Os meristemas, assim como os adultos, podem ter função de revestimento, transporte ou podem ser chamados de fundamentais (para preenchimento e sustentação). Esses meristemas têm função de crescimento (alongamento; graças à sua grande capacidade de divisão por mitose) e de desenvolvimento (diferenciam-se em outras células; são como "células-tronco" vegetais).

Dividem-se em:
  • Meristema primário (I): encontrado nas sementes e nos ápices do caule e da raiz (apicais). Responsáveis pelo crescimento vertical da planta. É subdividido em protoderme (revestimento), procâmbio (transporte, vai gerar xilema e floema) e meristema fundamental (preenchimento e sustentação).
  • Meristema secundário (II): menos comum, encontrado apenas no caule e na raiz. Responsável pelo crescimento lateral ou diametral da planta. Subdivide-se em câmbio (transporte, gera a madeira propriamente dita) e felogênio (reveste, formando o súber; "casca" da planta).
Todas as plantas têm crescimento primário (apresentam meristema I), mas nem todas tem o secundário. As monocotiledônias, por exemplo, não apresentam crescimento secundário (ao contrário de dicotiledônias e gimnospermas, por exemplo).

Histologia Humana

Histologia é, propriamente, o estudo dos tecidos. No caso, de tecidos humanos.

Tecido é um conjunto de células especializadas em uma função específica.

Os quatro tipos de tecidos adultos básicos, derivados dos três tecidos/folhetos embrionários (ectoderme, mesoderme e endoderme) são:
  • Tecido epitelial (derme e glândulas anexas);
  • Conjuntivo (sustentação);
  • Muscular;
  • Nervoso.


As células, que diferenciam os tecidos, têm formatos, constituições e formas distintas, de acordo com suas funções.

Substância intercelular (matriz): como o nome sugere, é a substância que preenche os espaços entre as células dos tecidos. Essa substância intercelular divide-se em:
  • Substância fundamental amorfa: substância composta polissacarídeos, água e proteínas que dá consistência e unidade ao tecido.
  • Fibras proteicas: fibras que podem ser colágenas (dão resistência a tração, como na pele, por exemplo), elásticas (confere elasticidade ao tecido, reestruturando-o quando submetido a tração) e reticulares (envolvem as outras fibras, dando firmeza e coesão ao tecido e à própria substância intercelular.


Tecido Conjuntivo
De origem mesodérmica, ele confere sustentação e preenchimento ao corpo. Caracterizado por ter muitas células bem espaçadas e muita substância amorfa compondo a substância intercelular.
O tecido conjuntivo, como um todo, divide-se em 5 tipos::
• Propriamente dito
• Adiposo
• Ósseo
• Cartilaginoso
• Hematopoiético

Tecido Conjuntivo Propriamente Dito
Preenche e sustenta o corpo, têm as características principais que definem o tecido conjuntivo como um todo.
- Células: fibroblastos, responsáveis pela produção da matriz (subst. amorfa). Quando inativos, os fibroblastos murcham e viram fibrócitos, que ali continuam ocupando espaço no tecido. Há ainda os macrófagos, que circundam o tecido e fagocitam (englobam) microorganismos estranhos (resumindo, servem para defesa e manutenção do tecido).
O tecido conjuntivo propriamente dito divide-se em:
  • Frouxo: fibras reticulares, colágenas e elásticas se apresentam de forma homogênea. Há mais substância amorfa. Esse tipo de tecido é mais responsável pela sustentação.
  • Denso: tem a mesma quantidade de substância amorfa que o tetcido frouxo, mas tem muito mais fibras (em especial, elásticas), conferindo resistência e elasticidade ao tecido. O denso ainda tem sub-divisões:
  1. Modelado (ou tendinoso): tem feixes de fibras organizadas paralelamente, dando mais resistência. Forma tendões (ligam osso-músculo) e ligamentos (ligam osso-osso).
  2. Não-modelado (ou fibroso): apresenta fibras desorganizadas, conferindo maior elasticidade/maleabiliadde ao tecido. Envolve estruturas como os rins, baço, os testículos, o fígado, os ossos...


Tecido Conjuntivo Adiposo
Diferencia-se, especialmente por suas células e, não, por sua substância amorfa (o que ocorre no tecido conjuntivo propriamente dito).
Suas principais funções são:
  • depositar gordura (lipídios = reserva energética),
  • servir de isolante térmico (em especial em aves e mamíferos, que têm que manter sua temperatura interna constante) e
  • proteger órgãos internos de choques mecânicos (principalmente na região abdominal, que não é coberta por ossos).

- Células: as células especializadas do tecido adiposo são os adipócitos, células que tem um vacúolo central de gordura (armazenam lipídios). Os adipócitos têm a capacidade de se expandirem e "reproduzirem": quando chegam a um limite de expansão, eles produzem mais adipócitos para que armazenem mais reservas. Obs: eles não morrem quando as reservas diminuem, somente depois de 2 ou 3 anos sem receberem gordura.
- Substância intercelular: substância fundamental amorfa e poucas fibras proteicas. Há pouca substância intercelular, pois os adipócitos são muito grandes e não deixam muito espaço entre eles.



Tecido Conjuntivo Cartilaginoso

É um tedico responsável pela sustentação de partes do corpo que não podem ficar muito fixas (estáticas), como a coluna vertebral. As cartilagens tende a se calcificarem e virarem tecido ósseo (o que ocorre no embrião, que tem, inicialmente, um esqueleto cartilaginoso). Entre suas funções: ele ameniza impactos, facilita mobilidade de articulações e forma estruturas. Obs: o tecido cartilaginoso nunca para de crescer, mesmo que em ritmo lento (por isso o nariz e a orelha dos idosos são maiores).
Outra característica específica das cartilagens é que elas são avasculares (não têm vasos sangüíneos): dependem de um tecido fibroso (denso não-modelado) chamado pericôndrio, que é responsável pela oxigenação, nutrição, regeneração e composição estrutural da cartilagem, através de difusão.

- Células: Condroblastos, responsáveis pela formação da substância intercelular (matriz e fibras). Quando inativos, continuam ocupando espaço no tecido e chamam-se condrócitos. A produção de novos condroblastos é função do pericôndrio.
- Matriz: a substância fundamental amorfa é mucopolissacarídica, também chamada de condrina e tem consistência borrachuda. As fibras são encontradas em quantidade "regular", com foco nas colágenas.

O tecido cartilaginoso é dividido em três "tipos"::
  • Cartilagem Hialina: é a mais comum, apresenta substância intercelular homogênea (aparência branca), com poucas fibras. Todo tecido ósseo é originado por cartilagem hialina, mas nem toda hialina vira osso.
  • Cartilagem Elástica: substância intercelular também homogênea, com mais fibras (elásticas). Forma o septo nasal, o canal auditivo externo e a epiglote ("tampa" na faringe que separa o que vai pelas vias aéreas e pelas vias digestivas).
  • Cartilagem Fibrosa: é a mais resistente e densa, formada por grossas fibras colágenas. Forma os discos intervertebrais da coluna, que dão mobilidade ao corpo e protegem a medula espinhal, juntamente com os nervos que dela saem. (Quando há deslocamento ou desgaste excessivo desses discos ocorre a chamada Hérnia de Disco, mal que provoca dores provindas do "expremimento" dos nervos entre as vértebras.)