segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Indendência da América Espanhola (I)

- "releitura" do blog do Cássio

A Espanha viu, no início do século XVII, a ascensão da dinastia Bourbon (mesma dinastia que governava a França, assumir o poder no país ao mesmo tempo em que este estava perdendo sua força na Europa, por mais que ainda tivesse o maior império colonial da América (Índias Ocidentais Espanholas). Foi também em meados desse século (cerca de 1760) que começou o processo de independência desse império colonial espanhol, causado tanto por fatores coloniais quanto problemas na própria Espanha. Antes de vermos sua crise, vejamos como se organizava a América Espanhola:
  • Divisão em vice-reinos: o Vice-Reino da Nova Espanha (sudoeste dos EUA e México), o Vice-Reino do Peru (ambos responsáveis pela extração de metais, em especial a prata) e as áreas periféricas (região do Prata, Colômbia, Venezuela - responsáveis por diversas atividades, como pecuária e agricultura) perfaziam cerca de 13 milhões de km², com cerca de 12 milhões de habitantes no total.
  • Divisão da população colonial:
  1. Chapetones ou peninsulares: elite colonial, representava pequena parte da população, detentora das riquezas e do poder administrativo das colônias (vice-reis, juízes e bispos). Eram todos espanhóis, ligados à Corte.
  2. Criollos: elite colonial nascida na colônia, descendentes diretos de espanhóis, ocupavam cargos administrativos de nível regional (os conselhos municipais - os cabildos e as audiências - cortes de justiça). Representavam pequena parte da população e exigiam mais direitos políticos (para ficarem com mesmo direitos que os chapetones). No século XVIII, ascenderam de forma incrível, transformando-se na classe dominante da América espanhola
  3. Mestiços: filhos de índios com espanhóis, eram livres, exercendo atividades comerciais artesanais e manufatureiras.
  4. Negros: escravos africanos, representavam uma minoria. Junto com os mestiços, formavam as castas.
  5. Índios: nativos, semi-livres, eram obrigados a se submeter ao trabalho na mineração (a mita, originária dos tempos pré-colombianos - incas) ou nas haciendas (fazendas geralmente monocultoras). Existiam as encomiendas, nas quais os senhores das haciendas teriam índios trabalhando em suas haciendas desde que os catequizassem. Os índios formavam a maior parte da população colonial.
Certos fatores, mais que outros, geraram as revoltas na América espanhola. São eles:
  • A influência das idéias Iluministas, que se espalharam rapidamente pela América espanhola (a presença de 20 universidades nas colônias ajudou no rápido alastramento dos ideais iluministas de igualdade jurídica e liberdade de produção e comércio). Os que mais reivindicaram tal liberdade e igualdade foram os criollos. Surgiu tensão entre os criollos e os chapetones.
  • As reformas Bourbônicas, decretadas pelo déspota esclarecido (Absolutista influenciado pelas mudanças ideológicas do momento) Carlos III, tinham o intuito de fortalecer o controle da metrópole sobre suas colônias, em especial contra o avanço da Grã-Bretanha depois da Guerra dos Sete Anos (a Espanha saiu vergonhosamente derrotada). Entre as reformas, destacam-se: a criação de intendências reais, que sobrepujaram o poder dos governadores e corregedores (aldaides); a diminuição da participação de criollos nas Audiências e cabildos, sendo nomeados mais chapetones para os cargos políticos; aumento de impostos, especialmente para cobrir os gastos militares com a proteção do império colonial contra ataques ingleses, principalmente; a expulsão dos jesuítas, que eram considerados muito independentes e suscetíveis a revoltas contra a Coroa; o reforço do Pacto Colonial, embora permitindo comércio entre as colônias, reafirmou a proibição de comércio com outras nações e a criação do Vice-Reino do Prata (atuais Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia), fortalecendo o território contra invasões portuguesas e desenvolvendo a região de Buenos Aires. No geral, as Reformas Bourbônicas representaram uma "nova conquista espanhola da América", retomando o controle metropolitano sobre a colônia, em detrimento do avanço dos criollos.
Vieram então as revoltas propriamente ditas, motivadas pelos confrontos entre criollos e chapetones/peninsulares. Inicialmente, criollos, castas e índios lutaram juntos contra os peninsulares, mas, posteriormente, a luta virou-se contra os criollos também. No geral, a população foi levada à revolta pelos excessivos impostos, pela corrupção na administração colonial e pelos abusos das autoridades. Duas revoltas tiveram mais relevância:
  • Revolta de Tupac Amaru (1780 a 1781): José Gabriel Kunturkanku, ou Tupac Amaru II (afirmava ser descendente da dinastia inca de Tupac Amaru, último imperador inca, dois séculos antes) foi o rico líder mestiço do levante das massas indígenas no Peru e na Bolívia. Lutou pela abolição da servidão indígena (mita), pela eliminação de impostos e pelo direito à ascensão política dos índios. Inicialmente, recebeu apoio da elite criolla contra os espanhóis, mas se retiraram quando o movimento ficou mais radical: muitos brancos eram mortos indiscriminadamente. Sem apoio dos criollos e com divisões internas, Tupac Amaru II, que tinha conquistado o sul do Peru, a Bolívia e o norte da Argentina, teve de ver o fracasso do movimento, sendo capturado, torturado e executado em Cuzco. Conseqüência da revolta: embora tenha fracassado, a revolta serviu de alerta para as autoridades espanholas, que reduziram a mita, substituíram funcionários nos cargos administrativos e instalaram uma corte de justiça em Cuzco.
  • Revolta dos Comuneros (1781-1782): levante de camponeses mestiços e índios, liderados por José Antônio Galan, que contava com o apoio do clero e dos criollos. Com o massacre de brancos, clericais e criollos se afastaram do movimento, que acabou sufocado pela Espanha. Ocorreu na Colômbia e na Venezuela.

Nenhum comentário: