O atual Haiti, localizado na ilha de Hispaniola, ao lado da República Dominicana, nos séculos XVII e XVII, foi colônia francesa, com o nome de Saint Domingue. Era a principal colônia da França e a maior produtora de açúcar do mundo, abastecendo grande parte do mercado europeu e gerando o acúmulo de capitais da burguesia francesa. Sua produção era pautada no sistema de plantation (propriedades monocultoras com mão-de-obra escrava). Sua população era composta por meio milhão de habitantes: 35 mil brancos (grand blancs, aristocratas franceses que controlavam as plantations e as assembléias coloniais/governos municipais), 30 mil mulatos (affranchis, livres, sem participação política) e 435 mil escravos africanos. Essa discrepância dos números foi um dos principais fatores que levou Saint Domingue à seu processo de independência: o país era um barril de pólvora, prestes a explodir, caso ocorresse qualquer rebelião de escravos. A ilha também era um lugar de extremo racismo por parte dos brancos, estimulados pela legislação francesa (outro motivo era a religião: oficalmente, Saint Domingue era católica, mas parte dos negros e mulatos realizavam cultos - vodu, sendo mais discriminados pelas elites).
Veio então, no final do século XVIII (1789), a Revolução Francesa com seus ideais de liberdade, igualdade e abolição da escravidão, dando esperança aos negros e mulatos. Esperanças estas que foram frustradas pelo governo revolucionário e pelos grand blanchs, o que gerou grande tensão na ilha. Simultaneamente, a elite começou a se dividir e lutar pelo controle das assembléias coloniais e governos municipais e os mulatos organizaram-se em bandos armados, atacando a elite. tanto os mulatos quanto os grand blanchs usavam escravos na luta. Instalou-se o caos político na ilha, iniciando aí a Revolução Haitiana, que vai de 1791 a 1804, quando o país proclamou sua Independência.
A Revolução Haitiana baseou-se na guerra racial (mulatos/negros x brancos), na revolução social (escravos x senhores) e na luta pela libertação da colônia (negros/mulatos x ingleses/espanhósi/franceses). As principais causas foram: as grande rivalidades entre escravos e senhores, acentuadas pela quantidade de escravos de Saint Domingue, os ideais de liberdade e igualdade disseminados pela Rev. Francesa e a dificuldade da metrópole (França) em manter militarmente o controle na ilha (a França estava envolvida em outras guerras na Europa - a própria Rev. Francesa e as Guerras Napoleônicas quando pode enviar tropas para a ilha, a situação já estava incontrolável).
Dividindo a Revolução:
- Agosto de 1791: início da Revolução, os escravos se rebelam contra seus senhores. Instala-se o caos no país.
- Governo de Sonthonax: em 1792, os Jacobinos enviam o comissário Léger Sonthonax para comandar o país. Detendo poderes especiais, Sonthonax instala um regime ditatorial, perseguindo os brancos, aliado aos mulatos.
- 1793: invasão da Espanha (que dominava Santo Domingo, na mesma ilha de Saint Domingue) - utilizando tropas de negros da ilha, comandadas pelo escravo Toussaint L'Overture, e invasão da Inglaterra (que tenta tomar a colônia dos franceses), ambas apoiadas pela elite branca. Para obter mais apoio para enfrentar espanhóis e britânicos, Sonthonax decreta a abolição da escravidão (ratificada pela Convenção Nacional em 1794). Com a abolição, L'Overture passa para o lado dos franceses. Em 1795, os espanhóis desistem, enquanto os ingleses só deixaram a ilha em 1798.
- Toussaint no poder: juntamente com Jean-Jacques Dessalines e Henri Cristophe (também líderes negros), Toussaint derrota as forças mulatas e assume o poder. Grande parte da população tinha sido dizimada ou migrado e a produção tinha cessado durante as lutas. Toussaint institui um regime militar ditatorial, com trabalho forçado nas plantations estatais, tentando regularizar a produção e exportação de açúcar. Sua popularidade despencou.
- Leclerc invade a ilha: Charles Leclerc, general de Napoleão, invade a ilha por ordem do imperador, com 20 mil soldados. Inicialmente vitorioso, Leclerc consegue capturar e enviar Toussaint para uma prisão na França, onde morre. Tentando restaurar a escravidão, Leclerc desencadeou mais revoltas que, juntamente com doenças, dizimaram o exército francês. Leclerc, inclusive, morreu de febre amarela, sendo substituído por Rochambeau, que brutalmente retomou a guerra racial. Dessalines e Cristopher, no comando dos negros, reiniciaram os massacres. Em 1803 os franceses bateram em retirada, perdendo, no total, 40 mil bons soldados. A parte oriental da ilha, Santo Domingo, continuou sob domínio francês até retomada espanhola, em 1809.
- 1° de Janeiro de 1804: Proclamação de Independência de Saint Domingue, feita por Dessalines, que assume o poder como Imperador Jacques I (até 1806). O país assume o novo nome de Haiti, que significa "terra das montanhas", na língua nativa.
A Revolução Haitiana trouxe, às elites das outras colônias na América, um tremendo medo em relação à revoltas de escravos, obrigando-as a adotar posturas conservadoras de cautela, evitando desentendimentos com suas metrópoles. As constantes guerras e revoltas no Haiti durante a Revolução, levaram a produção do país a ruínas, gerando colapso econômico e empobrecimento do país - até hoje irrecuperável. A indenização que teve de ser paga à França para que esta reconhecesse a independência também pesou muito na economia fragilizada do Haiti.
Em 1821, foi adotada a República no país, sendo que de 1822 a 1843, o país dominou toda a ilha de Hispaniola.
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